Vira e volta me encontro com textos de Frei Betto, o padre boa praça que nos encheu de ternura e tenacidade para lutar pelos oprimidos e sem voz que povoam este país de meu Deus. Num destes artigos, o Frei nosso amigo bebe em outra fonte para nos dar um toque, muito embora carinhoso, como sempre. Beto serve-se de Zygmunt Bauman para pôr o dedo na ferida e denunciar o limite da liberdade na modernidade capitalista. Para quem não conhece, e não é obrigação de ninguém conhecer, Zig Bauman é hoje um dos pensadores mais respeitados do mundo. Polonês de nascimento, formado em sociologia e autor de dezenas de livros, entre eles Medo Líquido e Globalização, as conseqüências humanas.
Mas voltando ao texto, segundo Bauman, no mundo capitalista pode-se tudo (embora a maioria não possa quase nada), exceto imaginar um mundo melhor do que este em que vivemos. “Quando muito, fica-se no conserto da casa, a reforma do telhado, a pintura das paredes, sem que se questionem a própria arquitetura da casa e, muito menos, o modo de convivência dos que a habitam”. E eu aqui pensando nesta história de um trabalho comunitário, além da abrangência da palavra, daqueles em que tocamos as pessoas, quase sentindo a sua temperatura.
Dizia Frei Betto, que “os mais progressistas até admitem que, na reforma, o quarto de empregada seja deslocado do exterior para o interior da casa. Até aqui o limite da lógica capitalista. Além disso, suprime-se a liberdade de quem ousa propor que não haja quarto de empregada nem empregada. No máximo diaristas sindicalizadas e com todos os direitos garantidos por lei. Inclusive o acesso à casa própria”. Santa ousadia! Como circunscrever essa teoria do Direito num espaço delimitado e engessado? E eu aqui novamente montando um quebra-cabeças bem complicado no sentido da igualdade.
Se na teoria podemos conjugar mesmo o verbo ter no seu sentido mais amplo, principalmente aquele relacionado ao direito e à liberdade, na prática há limites que demarcam e controlam. E dessa maneira, como pensar em uma sociedade mais igualitária sem os famosos quartos e banheiros de empregada, em sua maioria apertados, sem janelas ou acesso à luz do sol com um rádio de pilha solitário a tocar canções bregas e a fazer companhia a pessoas também tão sozinhas.
Quanto mais a sociedade de consumo avança e nos oferece um mundo digital colorido e maravilhoso, mais temos a impressão de alcançar a liberdade sem limites, um prazer inexorável. Lembro de uns anos atrás, em que falávamos do lazer, do direito ao lazer. Na teoria todos temos direito ao lazer, e parece que nisso todos concordam. Entretanto, é bom lembrar que o lazer é pago. E na maioria das vezes o preço é alto. Nesse caso, há o limite supremo do poder de consumo. Aí não tem remédio, a maioria está mesmo de fora, sem acesso.
O atual modelo de sociedade, desigual, excludente e danoso reforça esta idéia. Temos um processo de banalização da violência, da delação e da invasão de privacidade. Para os que têm dinheiro, não há limites, todos acima do bem e do mal. Para a plebe, a mão dura da Justiça cega. Como cobrar do moleque que quer o tênis da TV e não pode comprar, mas em cada esquina esbarra no danado do calçado em outros pés, que combinam com a bermuda da Osklen?
Costumávamos dizer que estávamos protegidos nos limites de nossa casa e de nossa família, na grandeza de nossa individualidade. Isso tudo se foi. Se os limites foram perdidos é bom procurá-los embaixo do edredom dos Big Brother da vida, onde o privado transborda e inunda o público.
Volto ao texto de Frei Betto na tentativa de traduzir da melhor forma para o leitor “Rompem-se as quatro paredes e promove-se a inversão dos fatores: o “cínico” anula o “clínico”, de modo a ‘desistorizar’ o tempo e ‘atomizar’ as relações sociais. Mais importante do que conhecer as causas que impedem o Brasil de crescer é saber se Mick Jagger arrumou nova namorada no Rio ou quem será o novo milionário da casa-alvo do voyeurismo nacional.
Ele nos diz mais ainda, que “resgatar o direito político à liberdade é o desafio se almejamos que, no futuro, a violência não extrapole do âmbito privado para o público. E imprimir ao exercício coletivo da liberdade um sentido, uma direção, um horizonte capaz de superar a grande antinomia do atual modelo de democracia: em nome da liberdade, a maioria é excluída do direito à justiça’’.
E não é por outra razão que Frei Betto se utiliza de Zig Bauman. O sociólogo polonês deu a deixa: “as certezas da modernidade sólida se foram, e, com isso, a utopia do controle sobre os mundos social, econômico e natural desmoronou.”
Mas voltando ao texto, segundo Bauman, no mundo capitalista pode-se tudo (embora a maioria não possa quase nada), exceto imaginar um mundo melhor do que este em que vivemos. “Quando muito, fica-se no conserto da casa, a reforma do telhado, a pintura das paredes, sem que se questionem a própria arquitetura da casa e, muito menos, o modo de convivência dos que a habitam”. E eu aqui pensando nesta história de um trabalho comunitário, além da abrangência da palavra, daqueles em que tocamos as pessoas, quase sentindo a sua temperatura.
Dizia Frei Betto, que “os mais progressistas até admitem que, na reforma, o quarto de empregada seja deslocado do exterior para o interior da casa. Até aqui o limite da lógica capitalista. Além disso, suprime-se a liberdade de quem ousa propor que não haja quarto de empregada nem empregada. No máximo diaristas sindicalizadas e com todos os direitos garantidos por lei. Inclusive o acesso à casa própria”. Santa ousadia! Como circunscrever essa teoria do Direito num espaço delimitado e engessado? E eu aqui novamente montando um quebra-cabeças bem complicado no sentido da igualdade.
Se na teoria podemos conjugar mesmo o verbo ter no seu sentido mais amplo, principalmente aquele relacionado ao direito e à liberdade, na prática há limites que demarcam e controlam. E dessa maneira, como pensar em uma sociedade mais igualitária sem os famosos quartos e banheiros de empregada, em sua maioria apertados, sem janelas ou acesso à luz do sol com um rádio de pilha solitário a tocar canções bregas e a fazer companhia a pessoas também tão sozinhas.
Quanto mais a sociedade de consumo avança e nos oferece um mundo digital colorido e maravilhoso, mais temos a impressão de alcançar a liberdade sem limites, um prazer inexorável. Lembro de uns anos atrás, em que falávamos do lazer, do direito ao lazer. Na teoria todos temos direito ao lazer, e parece que nisso todos concordam. Entretanto, é bom lembrar que o lazer é pago. E na maioria das vezes o preço é alto. Nesse caso, há o limite supremo do poder de consumo. Aí não tem remédio, a maioria está mesmo de fora, sem acesso.
O atual modelo de sociedade, desigual, excludente e danoso reforça esta idéia. Temos um processo de banalização da violência, da delação e da invasão de privacidade. Para os que têm dinheiro, não há limites, todos acima do bem e do mal. Para a plebe, a mão dura da Justiça cega. Como cobrar do moleque que quer o tênis da TV e não pode comprar, mas em cada esquina esbarra no danado do calçado em outros pés, que combinam com a bermuda da Osklen?
Costumávamos dizer que estávamos protegidos nos limites de nossa casa e de nossa família, na grandeza de nossa individualidade. Isso tudo se foi. Se os limites foram perdidos é bom procurá-los embaixo do edredom dos Big Brother da vida, onde o privado transborda e inunda o público.
Volto ao texto de Frei Betto na tentativa de traduzir da melhor forma para o leitor “Rompem-se as quatro paredes e promove-se a inversão dos fatores: o “cínico” anula o “clínico”, de modo a ‘desistorizar’ o tempo e ‘atomizar’ as relações sociais. Mais importante do que conhecer as causas que impedem o Brasil de crescer é saber se Mick Jagger arrumou nova namorada no Rio ou quem será o novo milionário da casa-alvo do voyeurismo nacional.
Ele nos diz mais ainda, que “resgatar o direito político à liberdade é o desafio se almejamos que, no futuro, a violência não extrapole do âmbito privado para o público. E imprimir ao exercício coletivo da liberdade um sentido, uma direção, um horizonte capaz de superar a grande antinomia do atual modelo de democracia: em nome da liberdade, a maioria é excluída do direito à justiça’’.
E não é por outra razão que Frei Betto se utiliza de Zig Bauman. O sociólogo polonês deu a deixa: “as certezas da modernidade sólida se foram, e, com isso, a utopia do controle sobre os mundos social, econômico e natural desmoronou.”
Profª Guilhermina Rocha
Especialista em Educação e Historiadora
Presidente do CEPRO
Colunista do Jornal Razão – Rio das Ostras
Email: guilherminarocha@oi.com.br
CEPRO – Centro Cultural de Educação Popular de Rio das Ostras
Avenida das Flores, nº 394 – Bairro Residencial Praia Âncora
Rio das Ostras – RJ
Telefone: (22) 2760-6238 / (22) 9834-7409
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CEPRO – Um projeto de cidadania, educação e cultura em Rio das Ostras