Bateu com a cabeça no chão
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumação
Desamassa aqui pra ficar boa…”
(Domínio Público)
A indústria do lazer é fruto da sociedade capitalista em que vivemos. Seu surgimento remonta a Revolução Industrial, iniciada na segunda metade do século XVIII, que trouxe uma carga diária de trabalho exagerada para o trabalhador.
Trazendo o tema para o universo infantil podemos perceber que muitas coisas não estão mudadas. Desde a infância, o indivíduo está imerso na lógica da produção capitalista. Muitas vezes, as crianças cumprem uma agenda com horas rigorosamente marcadas para as suas atividades, determinadas pelos adultos, constituindo um esquema que se assemelha ao que encontraremos no mundo do trabalho.
A escola e a família se organizam de modo a estabelecer horários fixos para cada uma das tarefas, com pouca ou nenhuma flexibilidade. Assim as crianças crescem sem a vivência de espaços em que possam exercer a liberdade de escolha, seja para brincar, conversar ou até para simplesmente não fazer nada.
Piaget (1976) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele afirma: O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. ( Piaget 1976, p.160).
A indústria do lazer e do entretenimento cresce vertiginosamente em tamanho e poder e já emprega mais do que setores tradicionais da economia. Diariamente somos bombardeados por mensagens na mídia que nos incentivam a comprar esse ou aquele produto, a freqüentar esse ou aquele lugar da moda; em suma, ditam como devem ser nossos momentos de alegria.
Analisando este contexto historicamente, com a ascensão da burguesia na Idade Moderna, a concepção de trabalho produtivo passou a ser sinônimo de progresso e de salvação divina, ao passo que ociosidade, a negação dessa salvação, mesmo entre as classes abastadas.
Em Psicologia, aprendizagem é o processo de modificação da conduta por treinamento e experiência, variando da simples aquisição de hábitos à técnicas mais complexas. Por desenvolvimento, a designação do ato de desenvolver, progredir, crescimento paulatino.
A brincadeira infantil é um importante mecanismo para o desenvolvimento da aprendizagem da criança.
Neste sentido, de várias formas, o lazer e o exercício da ludicidade na sociedade não deveriam estar vinculados a lógica do mercado. Lamentavelmente, o lazer a serviço do capital. Cinema, televisão, esporte, parques temáticos, informática, casas de festas, shoppings, todo esse leque de opções faz parte do mercado multifacetado que caracteriza o mundo em que vivemos.
A chamada indústria cultural sobrevive baseada na idéia e na prática do consumo de produtos tidos como culturais, ainda que fabricados em série. Essa indústria seduz os indivíduos e indica o que deve ser entendido como útil e necessário na sua busca de padronizar e racionalizar todo e qualquer tipo de ação e de lazer.
Insisto numa afirmação – os desafios são muitos e nada melhor para se superar as dificuldades do que partir do discurso para a prática. Entendemos que este deve ser um compromisso de todos e todas. Devemos lutar por um modelo de desenvolvimento que seja socialmente justo, com valores éticos e respeito à soberania dos povos.
Concluo re-afirmando que a mais perversa armadilha da alienação é acreditar que o mundo “sempre foi assim” e, portanto, “sempre será”.
Profª Guilhermina Rocha
Especialista em Educação e Historiadora
Presidente do CEPRO
Colunista do Jornal Razão – Rio das Ostras
Email: guilherminarocha@oi.com.br
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