por Michele Torinelli
Assembleia de Convergência de Soberania Alimentar reuniu organizações e movimentos de diferentes partes do mundo para debater sobre o tema e pensar ações comuns
Num contexto de mundo globalizado, no qual o neoliberalismo atua como um neocolonialismo, a agricultura é encarada pelo poder hegemônico exclusivamente como agronegócio. Assim, as demandas do comércio mundial são colocadas acima da necessidade das populações locais e do interesse dos trabalhadores, afetando o abastecimento alimentar, as condições de vida do campesinato e o ambiente.
Para solidificar a luta contra esse modelo e favorecer a construção de um novo, realizou-se a Assembleia de Convergência de Soberania Alimentar no dia 11, na Universidade Cheikh Anta Diop. A atividade do Fórum Social Mundial reuniu campesinos e militantes de vários países.
A favor da vida
“Queremos pequenas fazendas, que produzam alimentos para as pessoas, respeitem o meio, sejam agroecológicas e gerem emprego”, defende Dominique Bonnet, integrante de uma rede de agricultores ecológicos da França. Ele conta que o maior índice de suicídio de seu país está entre os trabalhadores do campo, porque não conseguem pagar suas dívidas com o agronegócio.
As multinacionais, como Syngenta e Bayer, aliam-se aos governos desenvolvimentistas para ceder linhas de crédito aos camponeses. Assim, o agricultor se insere no mercado mundial, fornecendo o que lhe é demandado, num sistema de monocultivo, mecanização, uso de sementes transgênicas e agrotóxicos.
“Nossos corpos, nossos campos, não deveriam servir de cobaia para multinacionais. Nós não somos produtos”, aponta Ibrahima Coulibaly, membro da Coordenação Nacional das Organizações Campesinas de Mali, que integra a Via Campesina.
Humberto Santos Palmeira, do Movimento de Pequenos Agricultores, organização brasileira que também faz parte da Via Campesina, acredita que devem ser feitas grandes ocupações para tomar as terras do grande capital. “Além disso, é necessário fortalecer a aliança com os setores urbanos, estabelecer contato direto com as organizações dos bairros e movimentos políticos”, complementa.
Mulheres na luta contra o agronegócio
Dolores Sales, da Coordenação Nacional Indígena e Campesina da Guatemala (CONIC) e da Via Campesina, pediu a palavra para destacar o papel das mulheres na luta pelos direitos dos povos campesinos. “Quando os homens são presos, somos nós mulheres que ficamos na frente da luta por soberania alimentar e agricultura campesina”, destaca Dolores.
“Precisamos lutar pela defesa de nossa Mãe Terra, pela água, pelos homens”, convoca a agricultora.
A grande via
Muitos dos participantes da assembleia são integrantes da Via Campesina. Trata-se de um movimento internacional que agrupa cerca de 150 organizações locais e nacionais em 70 países da África, Ásia, Europa e América. No total, representa em torno de 200 milhões de camponeses e camponesas.
Veja mais sobre a Via Campesina: http://viacampesina.org/
Fonte: http://www.ciranda.net/
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