Instrumento de percussão é usado em ritos de passagens e nas celebrações da vida e da morte
A vida dos arturos é marcada pelos tambores. Rústicos e construídos na própria comunidade, eles soam nas festas e nos momentos que antecedem os rituais. Os toques acompanham as pessoas nos momentos de alegria e de tristeza, com refinamento musical passado de pai para filho.
O tambor (Ngoma, nas línguas bantas) é provavelmente o mais importante instrumento musical africano. O som ritmado anuncia a chegada ou partida dos líderes, mantem o estado de ânimo no trabalho, celebra a vida e a morte, convoca as pessoas para reuniões e chama para a guerra e para a paz. Brasil, se tornou uma voz de contestação das senzalas.
“Quando as famílias negras chegavam escravizadas ao Brasil, eram separadas pelos brancos, que temiam a organização e a revolta. Mas os sinhôs não entendiam que os tambores são nosso laço de união, de comunicação e de ajuntamento”, diz João Batista da Luz.
Toque proibido
O som forte e incisivo dos tambores foi uma arma decisiva da resistência negra no período da escravidão, a ponto de seu toque ser proibido pelos brancos. Não adiantou, porque o batuque cerimonial e festivo se espalhou por todo o país, em diversas versões e manifestações.
Uma das tradições mantida pelos arturos é o candombe, um ritual de origem banto feito sob o som de três tambores sagrados, em que se evoca a força dos ancestrais. O ritual interno tem a responsabilidade de abrir as festas mais importantes da comunidade. A primeira é o reisado, em 6 de janeiro. A seguir vem os congos e moçambiques da Festa da Libertação, na segunda semana de maio, e a comemoração em louvor a Nossa Senhora do Rosário, celebrada em 8 de outubro e que mobiliza mais de 20 guardas (grupos) de congos da região durante três dias.
A última celebração de tambores é a festa do João do Mato, realizada em 15 de dezembro. Também conhecida como “festa da capina”, a comemoração, com a dança das enxadas e os batuques, marca simbolicamente o início do ano agrícola em uma comunidade atualmente com poucas plantações.
Sons e danças
“É um erro achar que Arturos faz folclore, que é uma cultura morta. Nós temos uma cultura viva, vibrante, que se renova a cada dia, com as crianças, os jovens e o ensinamento cotidiano dos antigos”, defende Jorge Antonio dos Santos, capitão da guarda de Moçambique. No centro do cortejo, é ele quem tem a responsabilidade de puxar os cânticos e conduzir o grupo, protegendo os membros do império.
Jorge deixou o trabalho como operador de máquinas pesadas para atuar como gestor cultural junto à Secretaria de Cultura de Contagem. Na comunidade, tem a função de passar os ensinamentos do canto, instrumentalização e da dança às novas gerações. Assim como aprendeu do avô, do pai e dos tios, ensina os três filhos e as crianças da comunidade as origens, os momentos e os significados dos instrumentos, passos, cerimoniais, vestimentas e alimentos.
Na comunidade, os jovens estão aprendendo a criação de gungas, chocalhos sempre em números ímpares, feitos em metal ou com reaproveitamento de latinhas de tinta ou extrato de tomate, contendo bolinhas de aço ou ferro.
Lembrança dos grilhões
Presas por correias de couro (passadeiras) nos tornozelos ou abaixo dos joelhos, as gungas dialogam com os tambores e dão maior agilidade à dança. Nos passos do moçambique lembram os grilhões e argolas de ferro dos tornozelos dos escravos, que marcavam o ritmo do trabalho com os pés.
Para ajudar a manter a rica tradição cultural dos arturos, está sendo desenvolvido o projeto “Preservação das raízes do Pai Artur”, com apoio do Ministério da Cultura. A primeira das seis oficinas foi concluída em abril, com o estudo aprofundado da origem e função ritual de tambores, baquetas e gungas e a produção de instrumentos, entregues aos representantes de quatro guardas congadeiras. Em junho começam as oficinas de danças tradicionais, percussão, instrumentos, vestimentas, culinária tradicional e informática.
Fonte:www.brasildefato.com.br
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