O fotógrafo Douglas Mansur registra a Romaria dos Mártires da Caminhada, celebração de diferentes lutas dos povos
João Peres
Fotos: Douglas Mansur
de Ribeirão Cascalheira (MT)
Há uma certa proeza em reunir milhares de pessoas no Araguaia em torno de uma causa. Mais ainda se for em torno de denúncias às violações de direitos humanos e à reafirmação da trajetória de quem caiu lutando por uma causa. E essa gente, de várias partes do Brasil e do mundo, viajaram muitas horas para acompanhar a Romaria dos Mártires da Caminhada, que ocorreu nos dias 16 e 17 de julho.
A romaria acontece a cada cinco anos, desde 1986, para homenagear gente como a Irmã Dorothy Stang, Chico Mendes, Zumbi, o pataxó Galdino Jesus dos Santos, Vladimir Herzog e Franz de Castro. Há sempre uma lembrança especial aos irmãos da América Latina, fundamentais para Dom Pedro Casaldáliga, que defende a ideia de que se deixem de lado as fronteiras regionais ao se falar na opressão dos povos.
“Não é uma festividade, não é um show. É uma memória martirial”, avisa Dom Pedro, que comandou a Prelazia de São Félix do Araguaia durante a maior parte de seus 40 anos de existência.
O mártir local, motivo da celebração, é o padre João Bosco Burnier, morto por policiaismilitares em 1976 ao tentar evitar que duas mulheres fossem torturadas. Ele e Dom Pedro acabavam de chegar à cidade quando receberam a notícia. Uma era irmã e, a outra, a nora de um sitiante que atirou contra um soldado que viera assassinar seu filho. Presas, foram forçadas a ajoelhar no milho e em tampas de garrafa para que confessassem o paradeiro do sitiante. Quando Burnier foi à delegacia cobrar a liberdade das mulheres, foi chamado de “comunista” e “subversivo”. Confundido com Pedro, sofreu um disparo, não resistiu aos ferimentos e morreu. Uma história que teve início na luta pela terra em meio a uma ditadura militar que incentivava a ocupação do interior brasileiro mediante desmatamento e violência.
Fé e política
O início oficial da romaria se dá com a memória dos mártires. Da praça central, em plena noite de lua cheia, os fiéis seguem uma caminhada de quatro quilômetros. Milhares de velas iluminam o trajeto,
guiado por cantos que pedem uma igreja consciente das necessidades dos pobres. É um momento de beleza e de celebração das diferentes lutas, culminando em denúncias das violações de direitos humanos e de terras indígenas, do machismo, do racismo e dos deslocamentos forçados.
O fim da procissão e a celebração da manhã de domingo, sob forte calor, são realizadas ao lado do Santuário dos Mártires da Caminhada. É uma construção simples, que tem em seu interior um altar de madeira local e fotos dos mártires. “Devemos renovar nosso compromisso de seguir em caminhada rejeitando tudo quanto seja mentira, corrupção, morte”, aconselha Dom Pedro. O povo volta para casa, e dentro de cinco anos come estrada novamente até o Araguaia.
Fonte: Brasil de fato
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