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Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
O mundo saúda o desenvolvimento econômico do Brasil, hoje, país emergente e respeitado internacionalmente. Entretanto, organismos internacionais reconhecem que uma das lacunas mais graves desse desenvolvimento é a falta de uma política agrícola voltada para o povo brasileiro e de uma justiça no campo.
Há 16 anos, em Eldorado de Carajás, no sul do Pará, 155 policiais militares abriam fogo contra 1500 pessoas, homens, mulheres e crianças, acampadas pacificamente às margens de uma rodovia. Assassinaram 19 lavradores e deixaram inúmeros feridos e mutilados. Até hoje, ninguém foi punido por esse crime.
Tantos anos depois que o presidente da República, ainda Fernando Henrique Cardoso, estabeleceu o 17 de abril, como Dia Internacional da Luta pela Terra, a realidade dos lavradores no Brasil continua ignorada e incompreendida. A violência contra os sem-terra continua. Nesse último mês, somente em Pernambuco, foram assassinados dois lavradores sem terra: no dia 23 de março, Antônio Tiningo e já em abril (02), Pedro Bruno. Ambos, vítimas da ferocidade da concentração da terra e da insensibilidade de senhores que se sentem ainda donos de escravos no campo.
Jaime Amorim, membro da coordenação do MST em Pernambuco, afirma: “O latifúndio é essencialmente violento e impede as pessoas de viver e trabalhar no campo. O que ocorreu em Carajás nos dá força e clareza para lutar, pois enquanto houver concentração da terra, a desigualdade, a violência e a falta de democracia no Campo vão continuar”.
Para Dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás e co-fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), é importante esse dia em memória dos mártires de Eldorado de Carajás. Ele declara: “esse dia lembra a força da caminhada dos trabalhadores do campo, que se arrasta desde os tempos de Zumbi dos Palmares até hoje na história do Brasil. A luta pela reforma agrária não é questão de conseguir apenas um pedaço de chão, mas de mudar nosso país. A luta é profunda, ampla e de mudanças”.
Um dos grandes desafios dos lavradores no campo é que sua caminhada pacífica e justa seja compreendida e apoiada por toda a sociedade civil do país. Sem dúvida, no mundo inteiro, de todos os movimentos sociais, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) é o que mais conta com o reconhecimento internacional e recebeu diversos prêmios importantes de organizações e instituições reconhecidas no mundo. Entretanto, no Brasil, a maioria dos meios de comunicação social não permite que a sociedade civil conheça melhor os movimentos no campo e saiba realmente o que de fato está acontecendo e que sua luta é em benefício de todo o povo brasileiro e da justiça na terra.
No evangelho, Jesus compara o projeto divino no mundo com um pobre lavrador que joga a semente no campo e depois deve confiar no tempo e na força intrínseca da vida, contida na pequenina e frágil semente. “Depois que ele semeia, quer durma ou levante, a semente germina e cresce, sem que ele saiba como” (Mc 4, 23- 26). Essa esperança teimosa é o que tem mantido firmes as comunidades de lavradores sem terra na luta pela justiça e liberdade. Que todos nós vivamos a alegria de participar com eles desse caminho pascal.
Fonte: Adital
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