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Os problemas envolvendo a usina de Belo Monte, que está sendo
construída no Rio Xingu, pouco acima da principal reserva indígena do
Brasil, já rodaram o mundo, mas ainda não despertaram a atenção de
Brasília.
Os últimos anos foram marcados por um debate entre
ambientalistas e técnicos, gente que defende pontos de vista específicos
e, muitas vezes, inconciliáveis.
O projeto passou por ajustes
para minimizar seus impactos sobre a região, o lago diminuiu, uma
inovadora e também polêmica tecnologia de geração, a “fio d’água”, foi
adotada e empresas e fundos estatais foram chamados par financiar o
projeto cujo custo está estimado em R$ 25 bilhões (valor solicitado pelo
consórcio que toca a obra), mas pode chegar a R$ 35 bilhões no final,
devido às compensações que estão sendo pedidas pela prefeitura de
Altamira, o município mais atingido. Tudo isso para gerar quatro mil
megawatts (médios) de energia, segundo técnicos, em uma estimativa
otimista.
Belo Monte será construída. A usina já é parte da
paisagem política do Brasil, assim como dezenas de outros
empreendimentos que estão em obras ou em pranchetas para a Amazônia. Os
impactos ambientais sem dúvida serão imensos, mas podem ser o menor dos
danos desse iceberg. Ainda no campo político, a Comissão Interamericana
dos Diretos Humanos (CIDH), organismo ligado à Organização dos Estados
Americanos (OEA), chegou a pedir ao governo brasileiro a suspensão da
obra em 2011. O governo ignorou a notificação e seguiu em frente com
seus planos. Agora, as questões pendentes de Belo Monte chegam a um
campo mais conhecido do governo, a militância sindical, que começa a
impor condições para que os trabalhadores sigam em frente com a obra,
com greves já realizadas e ameaças constantes de paralisação. Os
motivos: “melhores condições de trabalho”.
A própria prefeitura de
Altamira já solicitou a paralização da obra por conta dos impactos na
cidade, que não tem infraestrutura para atender cem mil pessoas a mais
que vão utilizar os serviços públicos municipais de educação, saúde e
outros. Segundo o IBGE, a cidade tem hoje cerca de 85 mil habitantes. As
experiências de ocupação de área despreparadas, sem infraestrutura e
sem serviços básicos no Brasil são muitas e, em sua maioria,
desastrosas. O melhor exemplo disso é o entorno de Brasília, o que hoje
chamamos de “cidades satélites”, mas que na verdade foram formadas por
aglomerados de trabalhadores levados ao planalto central para construir a
capital federal e depois foram abandonados à própria sorte. Não há nada
que indique que será diferente na construção de Belo Monte e de outras
grandes obras de infraestrutura na Amazônia.
Outra frente de
problemas emerge novamente dentro do próprio governo. Um parecer do
Ibama mostra que o consórcio responsável pela obra não cumpriu muitas
das condicionantes com as quais havia se comprometido para obter a
licença de instalação da usina. O relatório apresentado pelo Ibama
analisa a trabalho realizado até o período de julho a dezembro de 2011 e
aponta que, até a data da sua publicação, apenas uma das 20
condicionantes havia sido atendida – quatro condicionantes não foram
cumpridas, quatro possuem pendências e 11 ainda estão em atendimento.

Programa de Capacitação de Mão de Obra
Os
dados apresentados no relatório não refletem a projeção apresentada
anteriormente e não foi apresentado o histograma de empregados
efetivamente contratados no período ou justificativa para não ter sido
atingida a projeção.
Programa de Saúde e Segurança
Não
foi prevista efetiva solução de responsabilidade do empreendedor para o
atendimento regular de saúde dos trabalhadores contratados.
Programa de Educação Ambiental para os Trabalhadores
Não
foi apresentado relatório específico para o Programa e nenhuma das
ações do cronograma apresentado no PBA previstas até o 4º trimestre de
2011 foi iniciada.
Projeto de Recomposição da Infraestrutura de Saneamento
A
empresa responsável pela execução do Projeto ainda não foi contratada e
a execução do cronograma encontra-se significativamente atrasada.
Projeto de Reassentamento Urbano
O cadastro socioeconômico foi previsto para estar concluído até o fim do 3º trimestre de 2011, mas ainda está em andamento.
Projeto de Saneamento
Segundo
o cronograma, a implantação dos sistemas de abastecimento de água,
esgotamento sanitário e do aterro sanitário deveria ter sido iniciada
ainda no segundo trimestre de 2011, mas ainda não foi implantado em
Altamira.

 Dal Marcondes é diretor da agência de notícias Envolverde.
 Fonte: Carta Capital.

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