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Roberto Malvezzi, Gogó
Equipe CPP/CPT do São Francisco. Músico. Filósofo e Teólogo
 
Estamos celebrando aqui no Nordeste os cem anos do
nascimento de Luiz Gonzaga. Nasceu em 13 de Dezembro de 1912. Além da dimensão
artística, é indubitável o papel de sua música na difusão do imaginário sobre o
Nordeste, inclusive do ponto de vista ambiental e social.
Fiz com Targino Gondim e Nilton Freitas o CD “Belo Sertão”,
numa tentativa de valorizar a importância social da música de Luiz Gonzaga.
Fizemos um diálogo de composições como o pout pourri de Asa Branca (Asa Branca,
Triste Partida e Volta da Asa Branca), Súplica Cearense, Jesus Sertanejo,
Riacho do Navio, etc. Fomos dissecando o que significa cada uma dessas músicas
nesse contexto, porque elas existem, qual a razão de tanta celebridade desses
clássicos nordestinos. Ao mesmo tempo, na lógica da convivência com o
semiárido, compusemos – inclusive com outros compositores – Água de Chuva,
Beleza Iluminada, Belo Sertão, Boato Ribeirinho, Estalo de Fogueira e outras.
Curioso como esse trabalho se difundiu no Nordeste muito
mais nas escolas, universidades e setores da educação popular que propriamente
no mundo do show business. Há inclusive monografias de mestrado estudando o
semiárido a partir da música, influenciadas pelo que viram e ouviram no CD.
Foi Luiz Gonzaga, junto com seus poetas como Zé Dantas,
Patativa do Assaré e Humberto Teixeira –muitos outros- que divulgaram o sertão
nordestino que está no imaginário do povo brasileiro. Claro que pintores como
Portinari, poetas como João Cabral de Melo Neto, romancistas como Graciliano
Ramos, dramaturgos como Ariano Suassuna, se somaram nessa divulgação, mas como
uma crítica à crueldade da fome e da sede que pairavam sobre o semiárido.
Hoje temos a convivência com o semiárido. Acabamos com as
grandes migrações, as frentes de emergência, a mortalidade infantil, os saques.
Mesmo numa seca como essa, a tragédia social já não reina como nos tempos da
“Asa Branca”. 
A música de Gonzaga continua viva por ser uma obra prima da
cultura popular, mas a nossa realidade mudou. Há muito por caminhar, mas grande
parte do caminho foi feito. Gonzaga gostaria de ver a volta de grande parte dos
migrantes nordestinos para o Nordeste.
Sem perdermos nossas raízes culturais, principalmente a
musical, hoje já podemos fazer novos baiões, novos xotes, novos rastapés, um
novo forró, para a alegria nordestina que nunca morre.
Nesses cem anos de nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do
Baião vai fazer a festa no céu enquanto nós a faremos aqui na Terra, até o dia
que Deus permitir.
Fonte: adital

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