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 1968: Mulheres que lutaram contra a ditadura e contra o machismo - Jornal O  Globo

A transição e evolução do movimento que, ao longo dos anos, deu cada vez mais voz às mulheres

Já é de anos a história compartilhada e
contada pelo mundo sobre a luta das mulheres pela igualdade de direitos,
ou seja, a luta feminista, que se deu há mais de 100 anos, e teve
sinceros marcos que precisam e devem ser destacados, pontuando, é claro,
aqueles que trouxeram mais que resultados, mas a certeza de que as
vozes que falam em nome do movimento, com o passar dos anos,
fortificou-se não só socialmente, mas historicamente também. O final da
década de 1960 foi responsável por gerar a segunda onda feminista, que
agitou o questionamento de mulheres por todo o mundo, principalmente na
França. Com o passar do tempo, através de diversos acontecimentos
marcantes, o feminismo tornou-se palavra de imposição e poder. A partir
daí a luta ganhou mais motivos para continuar e ser propagada.

 O desenrolar desse grande movimento traz
muito para ser dito. Com todas as dificuldades já enfrentadas pelas
mulheres, foi possível ser percebido por elas a falta do igual, daquilo
que as faziam tão presentes e escutadas quanto os homens eram. A
primeira onda feminista se deu pela busca por poder político no final do
século XIX e início do século XX, como, por exemplo, no direito ao
voto. Naquele momento, a revolução só começava, e cada detalhe desse
processo de libertação e desconstrução de sociedade desigual foi
relevante, trazendo, com toda potência, o motivo pelo qual milhões de
mulheres se uniram. Após a primeira onda, o debate se estendeu
grandemente entre 1960 e 1980.

O objetivo desse grande movimento em 1968
foi direcionado especialmente às mulheres francesas, que trouxeram
questões de necessária discussão. A professora e doutora em
Geo-história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Amanda Danielli
indica que os objetivos dessa lutas passaram a incluir outras propostas,
como a defesa da contracepção, o fim da proibição do aborto e o
entendimento de que era necessário mudar a legislação sobre o estupro.
“Há uma noção corrente de que 68 equivaleria a uma segunda onda do
movimento feminista, associado à contracultura, à organização da
esquerda a partir das universidades e à luta pelo direito ao aborto,
especialmente na França”, conta Amanda.

Tais tópicos parecem ser bastante atuais,
mas é apenas a compreensão de que a luta nunca finalizou e o feminismo
sempre estará presente. Donas de casa e trabalhadoras foram às ruas pelo
fim da opressão, misoginia e autoritarismo dominante por parte de seus
patrões, pais, e até companheiros. A juventude não seu calou. Se em
1968, na França, houve a certeza de que valia a pena todo o esforço para
continuar batalhando, atualmente os motivos só estenderam, ainda que em
alguns países tenham havido mudanças.

mulheres de maos dadas
Em 1 de maio de 1968, jovens mulheres caminham protestando pelas ruas de Paris

 

O ano de 1968 foi marcante também pela conhecida “Queima dos Sutiãs”, um protesto público em Atlantic City que reuniu cerca de 400 mulheres que repudiaram o concurso de beleza Miss America
num ato de empilhar saltos, maquiagens, roupas e acessórios que, por
pouco, não se transformaram em uma grande fogueira, pois o local não era
público. Tudo girava em torno da busca pelo encerramento da exploração
comercial feminina na mídia. A historiadora e pesquisadora Larissa
Ribeiro ressalta que a participação das mulheres nesse contexto diz
muito sobre o feminismo articulado naquele momento. “O posicionamento
tomado auxiliou na emersão do papel da mulher na luta política”, conta
Larissa.

mulher com sutia
Americana segura seu sutiã para protestar em Atlantic City em 1968

O ontem que refletiu no hoje  

Apesar de 68 não ter sido o boom
do movimento, a criação que se fez precisa do Dia Internacional do
Combate à Violência Contra a Mulher e a lei do Estatuto da Mulher
Casada, que aconteceram pouco antes, no início da década, só
contribuíram para outros avanços notados até os dias atuais, como o I
Congresso Nacional das Trabalhadoras Domésticas (21 de Maio, 1968) e
também, futuramente, incontáveis pequenas e grandes vitórias para as
mulhere. É possível reconhecer as datas marcantes para o movimento na
nesta linha do tempo (link http://feminismo.org.br/historia/), que traz
cada detalhe, cada um com sua importância. E a luta permanece.

mulher com cartaz
Mulher segura cartaz que diz, em francês, “meu corpo é meu”

LEGENDA3: Mulher segura cartaz que diz, em francês, “meu corpo é meu”

O que um dia foi realidade, hoje
tornou-se história que o mundo precisa absorver. Se na França o grito e o
manifesto de cada uma delas significou algo, foi certeza de que ecoaria
por todos os cantos e traria a união por um propósito mais que digno de
atenção. Para as pesquisadoras Amanda e Larissa, uma revolução, porém,
que ainda precisa ser conversada e evoluída. “Infelizmente, a questão
como um tema, um problema menor porque o universo acadêmico ainda é um
espaço primordialmente masculino, que em larga escala reproduz a lógica
patriarcal”, divide Amanda. Para Larissa, as crianças deveriam aprender
desde cedo o contexto em que vivem. “O tema não chega para todos, isso é
um fato. Porque não é interessante, politicamente falando, que as
pessoas pensem, questionem, problematizem”, afirma a historiadora.

Enquanto houver desigualdade, o feminismo
existirá, e a história continuará sendo vivenciada e escrita na memória
de todas aquelas que se envolveram ou ainda irão participar, mesmo que
brevemente, da luta pelo bem mais precioso: a liberdade de ser a melhor
versão de mulher possível. Seja através da segunda onda, em 68, ou de
todas as próximas que estão por vir, é garantida a força e as vozes que
se transformam em uma só, espalhando batalha, persistência e, acima de
tudo, o espaço merecido no social, intelectual e em tudo aquilo que é
feminino.


 Nathália Martins 

Reportagem realizada para a disciplina de Oficina Multimídia

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