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Como esperar que os nossos filhos sejam abertos à diversidade, se em casa somos intolerantes?
Minha mãe costumava dizer que os “filhos são nossa obra-prima”. Já meu pai, mais pragmático, falava sempre que “difícil, na vida, é educar os filhos; a gente dá um jeito no resto”. Como fazer da difícil tarefa de educar os filhos uma obra-prima?
A globalização, o acesso às informações em tempo real e a velocidade das mudanças nos deixam atônitos e paralisados, sem respostas assertivas para orientar nossa conduta em relação aos filhos.
O padrão de sociedade que construímos está na raiz de questões com as quais nós, pais e educadores, nos deparamos. Uma sociedade na qual as relações são baseadas em consumo e aparências, afetando o respeito ao outro na sua diferença e à vida do planeta como um todo.
Em uma sociedade em que o consumo é o eixo em torno do qual se desenvolvem toda a economia e os valores, o “ter” se sobrepõe ao “ser” de forma avassaladora. É difícil trilhar um caminho inverso.
Somos valorizados pelo que aparentamos ou temos, o que torna vazias as formas de interação social.
Sem nos darmos conta, principalmente nas grandes cidades, acabamos não tendo tempo para conhecer as pessoas, nem mesmo aquelas à nossa volta. Não sabemos mais como cultivar a convivência jogando conversa fora ou buscando uma reflexão que nos tire do lugar-comum, do superficial pasteurizado da comunicação de massas e das mídias sociais.
Na semana passada, em entrevista a uma revista semanal, a escritora americana Rosalind Wiseman, especialista em bullying, destacou a dificuldade dos pais de impor limites aos filhos. Ela afirma que, muitas vezes, os pais se colocam como cúmplices dos filhos, não só defendendo-os de forma incondicional, como também dando o mau exemplo em casa.
Como esperar que crianças e jovens sejam solidários e abertos à diversidade cultural e social, se em casa somos intolerantes, preconceituosos e autoritários? Como construir relações sociais mais consistentes e verdadeiras, se incentivamos de forma exagerada nossos filhos a usarem grifes e, sobretudo, valorizamos amizades relacionadas a prestígio e poder?
Vivemos um momento de transição para um paradigma em que a sustentabilidade deve ser o eixo da nova sociedade. E precisamos educar nossos filhos orientados por esta concepção, pois esse será o mundo em que eles vão viver. Um mundo onde a interdependência entre o ser humano e seu entorno, assim como a inter-relação entre o local, o regional e o global são premissas básicas.
Somos cidadãos planetários e por isto o “cuidado”, ao lado do diálogo, da diversidade cultural e da cooperação, passa a ser um valor fundamental em todos os setores: economia, cultura e educação. 
Precisamos aprender a cuidar de nós mesmos, do outro e do ambiente em que vivemos. A globalização e as novas tecnologias nos conectaram uns aos outros e abriram novas formas de ser, pensar, sentir e agir.
Consumo responsável, alimentação saudável, respeito às diversidades, saber ouvir e participar da vida social e política, criatividade e inovação poderão ser os novos pilares da sociedade contemporânea – e o Brasil tem todas as condições para trilhar este caminho.
Resta saber se teremos a maturidade e as condições para a construção e a afirmação de novos valores. Papel esse que é de toda a sociedade, mas, sobretudo, é responsabilidade dos pais.
Pesquisas e a experiência de instituições e profissionais que trabalham com jovens mostram que, para eles, a família é a instituição de maior valor, o seu porto seguro. Sobretudo para jovens de baixa renda, a mãe é a grande referência em suas vidas.
Portanto, faço aqui um convite para refletirmos sobre que educação queremos dar aos nossos filhos, para que vivam a contemporaneidade que o Século 21 nos impõe.
 Maria Alice Setúbal é doutora em psicologia da educação (PUC-SP) e presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, da Fundação Tide Setubal e do Instituto Democracia e Sustentabilidade.
CEPRO – Um Projeto de Cidadania, Educação e Cultura em Rio das Ostras.

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