Fosse Chico Lobo nascido no hemisfério norte, muito provavelmente esta primeira parte seria dispensável. Todos saberiam que ele é um dos maiores artistas populares do país, violeiro, cantor e compositor mineiro, de São João Del Rey, apresentador de TV e divulgador das nossas festas e tradições. Todos conheceriam as suas canções, o seu cuidado com a renovação, gravação e resgate dos nossos ritmos. Acima de tudo isso, todos conheceriam e reconheceriam como imprescindíveis os seus pouco mais de dez discos e um DVD.
Chico Lobo é tão importante para a nossa música e cultura que acaba de lançar um disco, acertadamente chamado de Caipira do Mundo, no qual executa canções suas com uma constelação da nossa música, nenhum deles do seu universo. Estão lá, como parceiros e também participantes Zeca Baleiro, Zé Geraldo, Suzana Travassos, Chico César, Virgínia Rosa, a lendária Banda de Pau e Corda, Alice Ruiz, Arnaldo Antunes, Vitor Ramil, Vander Lee, Fausto Nilo, Sérgio Natureza, Siba, Ricardo Aleixo, Sérgio Natureza, Verônica Sabino e Maurício Pereira.
Ao contrário do que muitas vezes acontece, Chico Lobo colocou todos dentro do seu balaio. Um fã mais exaltado que imagine o cantor e compositor navegando por outros mares que não os da catira, congada, folias e afins pode ficar tranquilo. A sofisticada poesia de Alice Ruiz, por exemplo, se enquadra no universo amplo e festeiro de Chico tanto quanto a modernidade de Arnaldo Antunes, o lirismo de Vander Lee e por aí afora.
Um dos exemplos mais surpreendentes fica por conta da faixa “Dois Rios”, sucesso da banda Skank, que encerra o disco. Chico Lobo, e apenas ele com as suas violas em versão instrumental, encontra na composição de Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis a toada mineira escondida. O resultado, de uma simplicidade comovente, demonstra sem palavras a força da nossa ancestralidade.
E essa talvez seja a chave deste disco e de toda a obra de Chico Lobo. Sua canção é sobretudo moderna. Sabe melhor do que ninguém colocar a tradição na ordem do nosso dia. Ouvi-lo não é ouvir algum ponto parado no tempo, mas sim perceber a ventania de todos os tempos a soprar hoje.
A ideia da produtora Rossana Decelso de realizar este disco de parcerias coloca Chico no centro da sua modesta grandeza. Uma grandeza que só atinge tal dimensão por ser compartilhada. Uma obra que vem de uma canção forjada por muitos em festa, que Chico nos devolve, agora e como sempre, em formato de celebração.
A melhor tradução fica mesmo por conta dos versos de Alice Ruiz para a linda canção “A mais difícil opção”: “Tem que saber que esse tempo é tudo o que a gente tem, é transformar em evento a festa que nunca vem. Das coisas que a vida tira tudo fica pra talvez, não existe sim nem não, de tudo o que a gente faz metade é imaginação”.
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Um belo dia, em meados da década de 70, o cidadão José Geraldo Juste largou o bom emprego em um banco na cidade de São Paulo e foi ser músico. Hoje, pouco mais de trinta anos depois de ter desconsiderado o conselho da maioria para ficar, o consagrado cantor e compositor Zé Geraldo pode comemorar uma vitoriosa carreira, longe dos bancos e, o que é melhor ainda, longe também do esquemão das grandes gravadoras.
A festa para comemorar a data não redonda chega finalmente ao público em forma de DVD e CD, com o nome de Cidadão – trinta e poucos anos. Curiosamente, a canção-título da empreitada é, além de um dos seus maiores sucessos, uma das poucas que gravou que não é sua, mas sim do amigo Lúcio Barbosa.
A saga do pedreiro que não pode entrar nas edificações que constrói virou um hino que, assim como diversas canções de Zé Geraldo, correm o país de boca em boca, quase sem tocar nas rádios de sucesso, novelas e televisão. O artista é um fenômeno que lota estádios, praças e locais de eventos nos mais recônditos rincões. Na sua frente há sempre uma multidão com seus sucessos na ponta da língua.
Zé Geraldo viaja com uma banda excelente. De forma compacta e eficiente, os músicos conseguem traduzir com perfeição tanto os elementos do rock quanto da canção rural e caipira presentes em suas composições. Seu som parece fazer parte de um elo perdido entre a modernidade pretendida e a virtualmente encontrada. Um formato que tem alguns poucos pares que o artista convida a participar da sua festa.
Entre os novos, ele chama o cantor mineiro Landau; Chico Teixeira, excelente compositor e violonista, filho do amigo Renato Teixeira e sua filha, a ótima cantora Nô Stopa. Da velha guarda, Zé Geraldo trouxe Xangai .
A festa, no entanto, fica mesmo por conta da apresentação básica do artista principal e toda a emoção que se derrama pela plateia. Zé Geraldo carrega em suas composições, além de uma beleza leve, agreste, uma sinceridade desconcertante que, num momento festivo e de recordações, tende a crescer e explodir. O público retribui feliz e agradecido, cantando todo o tempo as velhas canções junto da rouca e certeira voz do compositor.
Cidadão – trinta e poucos anos resume de forma emocionada o que se passou com o cantor e compositor desde o dia em que deixou o emprego de chefe do departamento de pessoal de um banco em São Paulo até hoje. Uma trajetória de coragem e, sobretudo, honestidade consigo mesmo e com o seu público. Esta e várias histórias podem ser vistas e ouvidas também nos extras do DVD, com vários depoimentos e uma linda roda de viola na sua casa, na Serra da Cantareira.
Fonte: revista fórum
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