Escolha uma Página

A ausência de debates e de idéias sobre as cidades é tamanha que não deixa de ser um fato alvissareiro o surgimento de qualquer proposta nova que possibilite reflexões. É com esse espírito aberto de construção de um debate que quero me posicionar e levantar argumentos contra essas idéias – não tão novas – de remoção e construção de muros em favelas. Juntei os assuntos porque acho que remoção, muros e a tese de que favelas são fábricas de bandidos fazem parte da mesma matriz teórica.
Devo dizer antes de tudo, que acho que começar o debate por aí é perda de tempo. Minha proposta é olhar além de Zona Sul, mudar a pauta, pensar a região metropolitana. Afinal, remoção de favelas não é algo viável, factível. Como retirar uma família que está ali há trinta anos? Chega a ser engraçado ver os mesmos que defendem o Estado mínimo, quando chamados a opinar sobre sua vizinhança, defendem um Estado forte, quase agressor, capaz de remover uma família que mora há décadas naquele espaço. Além da perda de tempo, é equivocado. Fica parecendo uma provocação de classes dos ricos, do andar de cima, contra trabalhadores pobres que insistem em dividir o mesmo território, em freqüentar a mesma praia. Há, aparentemente, uma visão elitista que não aceita diversidade, uma convivência entre classes no mesmo espaço.
Os muros acabam virando derivação do mesmo tema. Ao buscar conter a expansão desordenada das favelas e a preservação ambiental, os muros atingem outro alvo. Reforçam a idéia de segregação, do confinamento, do aparente controle das “classes perigosas”. Fica parecendo uma ação midiática para acalmar uma classe média assustada com a violência.
A melhor saída é esquecer muros e construir um grande acordo social contra o crescimento desordenado das favelas. Ao invés de muros, fiscalização do, poder público, ecolimites, acordos comunitários – sim, a comunidade é aliada.
Ao invés de uma política que sinalize idéias de separação de territórios inimigos, defendemos a união da cidade, a integração, entre território e pessoas, o investimento nas comunidades. Em Nova Iguaçu, há uma experiência de radicalização de políticas públicas, em especial para as famílias, crianças e jovens mais vulneráveis. Vale afirmar, apesar dos discursos, que nunca houve uma ação articulada o suficiente para gerar uma verdadeira ocupação social nas favelas. Esse caminho é possível, com horário integral nas escolas, políticas de formação profissional para a juventude, cursos pré-vestibulares, intermediação de uma mão de obra e monitoramento das famílias em maior risco social. Ações integradas no território, em parceria com a sociedade civil e as empresas socialmente responsáveis. Acima de tudo, o Estado tem que estar presente, assumindo a favela como parte da cidade.
Por fim, não haverá debate sério sobre pressão habitacional na Zona Sul do Rio se não olharmos as condições de vida do povo na região metropolitana, São Gonçalo, Baixada Fluminense e subúrbio do Rio. Há grandes oportunidades de desenvolvimento econômico com o Comperj em Itaboraí, o Arco Rodoviário na Baixada e o Porto de Itaguaí. É necessário estimular a implantação de um corredor de investimentos que ligue o Leste Fluminense à Baixada e a Zona Oeste, beneficiando mais de seis milhões de pessoas. Há de ser ter planejamento, uma estratégia de construção de uma rede de novos empreendimentos e oportunidades de geração de empregos nas cidades onde as pessoas vivem, acompanhado de um plano diretor sério que impeça uma explosão de crescimento desordenado nas áreas que serão cortadas pelo arco e no entorno do Comperj.
Toda essa discussão passa, ainda, pelo desafio de se resolver a questão do transporte público, que hoje, além de caro e desconfortável, consome boa parte do dia dos trabalhadores. Políticas de integração, bilhete único e, principalmente, a transformação dos trens da Supervia em metrô presisam sair dos debates dos palanques em época de eleição para virar realidade. Esse amplo investimento em velocidade e conforto é o caminho democrático e cidadão para a revitalização dos territórios da região metropolitana. A qualidade de vida da Zona Sul está, pois, diretamente ligada aos investimentos que forem feitos na Baixada e na Região Metropolitana.
Com o perdão da rima, muros e remoção não são solução.

Lindberg Farias
Prefeito de Nova Iguaçu – RJ.

Fonte: Jornal O Globo. Sábado 09 de maio de 2009 – página 7 Coluna Opinião

CEPRO – Centro Cultural de Educação Popular de Rio das Ostras

Avenida das Flores, nº 394 – Bairro Residencial Praia Âncora
Rio das Ostras – RJ
Telefone: (22) 2760-6238 / (22) 9834-7409
CEPRO – Um projeto de cidadania, educação e cultura em Rio das Ostras
Abrir bate-papo
1
Escanear o código
Olá
Podemos ajudá-lo?