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Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST

A publicidade empregada pelas empresas do agronegócio em
relação as suas sementes transgênicas, sempre foram sustentadas numa suposta
diminuição do uso dos agrotóxicos sobre as lavouras brasileiras a partir dessa
tecnologia.
Entretanto, como era de se esperar – uma vez que as mesmas
empresas produtoras das sementes geneticamente modificadas são as mesmas
produtoras dos venenos agrícolas -, ao mesmo tempo em que houve um boom da
utilização das sementes transgênicas na agricultura brasileira, houve, em
contrapartida, um vertiginoso aumento da quantidade de agrotóxicos utilizados
para essa produção, sem que a área cultivada crescesse a ponto de justificar
esse descompasso. 
Em entrevista à Página do MST, o engenheiro agrônomo Rubens
Nodari, cientista, professor da UFSC, ex-membro da CTN-Bio (Comissão Nacional
de Biotecnologia) e considerando um dos maiores especialistas em sementes
transgênicas, comenta os fatores dessa relação e revela a ineficácia dos
transgênicos: “O custo da lavoura transgênica na verdade vai ser mais cara do
que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar outros
herbicidas para depois matar essas plantas resistentes”.
Confira:
A área cultivada com
grãos no Brasil cresceu menos de 19%, de 68,8 milhões para 81,7 milhões de
hectares, mas o consumo médio de agrotóxicos, que era pouco superior a 7 quilos
por hectare, em 2005, passou a 10,1 quilos em 2011 – um aumento de 43,2%. O que
explica esse aumento do uso de venenos?
Bom, são dois cenários possíveis. O primeiro é que algumas
plantas são mais resistentes aos agrotóxicos. Isso é um fenômeno mundial, não é
só no Brasil; nos Estados Unidos a última safra da soja teve uma epidemia de
plantas resistentes a herbicidas, principalmente ao glifosato. 
No Brasil nós já temos documentado várias plantas que se
tornaram resistentes ou estão se tornando resistentes aos agrotóxicos. Então o
agricultor, ao invés de usar apenas uma aplicação de agrotóxico, como é o caso
da recomendação da empresa quando ela registra seu produto, os agricultores
aumentam a dose, o número de aplicações, ou ambas.
Com a introdução da soja transgênica, o número de variedades
diminuiu e sempre que tem menor diversidade genética em cultivo, se uma doença
ataca uma daquelas variedades, vai atacar numa maior área. Então também são
utilizados outros agrotóxicos, como é o caso dos fungicidas, especialmente no
caso mais recente da ferrugem asiática.
A lavoura de soja,
sozinha, é responsável por 48% de todos os agrotóxicos vendidos no Brasil. Por
quê?
Porque a soja é a cultura que utiliza a maior área de
cultivo no país hoje. Além disso, a maior parte da soja é cultivada em médias
ou grandes propriedades nas quais se usa o pacote químico completo: sementes
transgênicas, inseticidas, herbicidas e fungicidas, pois a soja é uma
leguminosa muito vulnerável a doenças e pragas. 
O que faz com que as
plantas se tornem resistentes ao uso de agrotóxicos?
Ocorre que existe variabilidade genética nas plantas
chamadas impropriamente de “daninhas” à lavoura, que vivem na área de cultivo e
teriam de morrer com a aplicação dos venenos. 
Algumas plantas, por serem mais resistentes, não morrem e
vão deixando sementes. Depois de um tempo existe uma grande quantidade de
plantas resistentes aos venenos. Essa resistência chega num ponto em que as
plantas continuam vivas, mesmo que se aplique o mesmo veneno mais vezes ou
aumente a quantidade de princípio ativo na área. 
O que faz a soja a
transgênica mais cara?
Bom, em primeiro lugar você tem o custo da semente. A
transgênica é muito mais cara do que a convencional, porque há uma patente
associada à venda dessa soja transgênica. Essa patente da o direito à empresa
que tem a semente de cobrar royalties, o que eleva o preço da semente
transgênica. 
Em segundo lugar, se existe uma área em que ocorre manejo e
rotação de cultivo, é preciso de pouco herbicida para controlar as plantas
“daninhas” que aparecem na área.
Enquanto quem usa o transgênico acaba utilizando mais
herbicida, muitas vezes aplicando preventivamente ou até várias vezes o veneno.
Há também relatos na literatura científica de que plantas transgênicas são mais
suscetíveis a ataques, então a intensidade do ataque e do fator doença é maior
na soja transgênica, o que leva à aplicação de outros agrotóxicos, como os
fungicidas.
Países europeus e
asiáticos compram do Brasil, em média, 5 milhões de toneladas do grão e 6,5
milhões de toneladas de farelo de soja convencional. Se há mercado para a soja
convencional, por que a soja transgênica é predominante?
Foram feitos alguns estudos de pesquisa entre agricultores e
ela predomina pela facilidade do manejo, ou seja, para uma grande propriedade,
os fazendeiros acham que é melhor ter menos funcionários, pois isso diminuiria
o custo de produção. 
Nesse sentido a soja transgênica facilita, pois com poucas
pessoas é possível plantar, e muitas vezes o mesmo funcionário que maneja a
semeadeira, depois maneja o pulverizador, que aplica o glifosato.
É isso que atrai na soja transgênica: mesmo pagando um pouco
mais, os agricultores acreditam que facilita o manejo, então eles pagam o preço
por essa maior facilidade. 
Mas essa facilidade é de curto prazo, porque no longo prazo
esse modo de cultivo vai criando plantas resistentes, que vão demandar o uso de
outros herbicidas. O custo da lavoura transgênica na verdade vai ser mais cara
do que os agricultores previam a longo prazo, porque eles vão ter quer usar
outros herbicidas pra depois matar essas plantas resistentes.
Os critérios que
consideram uma lavoura de soja natural são muito rígidos. É fácil uma safra
convencional de soja ser contaminada por uma transgênica?
Isso vai depender do manejo e do isolamento das lavouras dos
agricultores. Por exemplo, o pólen da soja transgênica não vai longe, ele vai
até uns 10 metros, entretanto uma semente de soja transgênica ou um grão podem
ir a centenas de metros ou kilômetros, porque ele pode ser levado por animais a
longas distâncias.
Se um agricultor usa só semente orgânica, por garantia, ele
teria que ter uma distância bem maior, eu recomendaria pelo menos mais de 100m
de isolamento para evitar a contaminação. 
E também esse agricultor não deve usar equipamentos de
outros agricultores, ele tem que ter seu próprio equipamento, porque se alguém
usa uma máquina de colher soja transgênica antes de colher uma lavoura de soja
orgânica, aí vai dar mistura de sementes. O mesmo vale para caminhões que
transportam, os silos, ou seja, tudo que facilita a mistura da semente pode
causar contaminação.
Existe alguma área na
qual haja essa distância de 100 metros?
Não, isso é recomendação minha. Normalmente é recomendado
10, 20 metros. Eu acho muito pouco, porque sempre tem uma ave, um animal que
carrega semente pra cá e pra lá… a não ser que o vizinho também plante
orgânica, aí tudo bem.
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